2006/03/12

 

José Cardoso Pires


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Cardoso Pires - Tive professores como o Câmara Reis, de Literatura, que era um bom professor. Mas era um bom professor não para um Liceu, mas para uma Universidade. Ele partia do princípio de que toda a gente já sabia o mínimo. E 90% não sabia.

J.C. Amarante - Portanto dava aulas para níveis mais avançados...
Cardoso Pires - A mim, esse professor deu literatura e foi um deslumbramento.

J. C. Amarante - Porquê?

Cardoso Pires - Porque ele falava de autores de que eu nunca tinha ouvido falar. Lembro-me muito bem que nessa altura (eu já tinha 15 anos), li o grande escritor da minha vida, o Ferreira de Castro. Foi um contacto que me transformou. Já estava farto de Bernardim Ribeiro.

J. C. Amarante - Houve outros professores?

Cardoso Pires - Sim, no 6º ano tive a sorte de encontrar um professor de Matemática, muito temido, chamado Alberto Beirão, que chumbava cavalarmente. Mas havia um grande respeito por ele. Quando aparecia numa turma, ficava tudo com medo porque, para começar, dava logo uma vassourada. Esse professor gostava muito de falar de História da Matemática e isso interessou-me. Eu não terminei o curso de Matemática por causa de duas cadeiras.

J. C. Amarante- Mas houve um outro professor de Matemática?

Cardoso Pires - Sim, houve. E era muito parecido com o Prof. Alberto Beirão. Ao explicar uma coisa, ele dizia, por exemplo, «este teorema foi inventado por Euclides. Quem foi Euclides?». Aquilo embalava as pessoas. De maneira, que pela primeira vez, tive notas razoáveis.

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José Cardoso Pires
(in Noesis-nº46-ABR/JUN 1998)

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